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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Técnica X Emoção

Quando eu era pequeno, mentira nunca fui pequeno, sempre fui grande pra minha idade.
Quando era mais novo, melhor assim, tinha por volta de 13,15 anos, sempre que me apaixonava perdidamente por alguma menina, eu perdia completamente a noção da realidade. Sempre imaginava que o "approach" se daria de um modo extramente complexo e incomum. A moçoila em questão estaria andando sozinha, alheia ao mundo, quando de repente chegava um cara e a agarrava a força, ou então batia nela, ou a roubava, ou tentava estuprá-la, ou todas as alternativas anteriores. Eu aparecia do nada, segurava a mão dele e dizia com uma voz máscula e intimidadora "SOLTE ELA! Vou contar de um até três, se você não soltá-la, vou ter que fazer uso da violência. Eu sou um pacifista, não quero agredir ninguém, mas você não está me dando escolha." E o pau comia solto. Dava chutes maestrais de fazer inveja em qualquer Bruce Lee, murros em pontos vitais, cotoveladas, joelhadas, batia em vários malfeitores ao mesmo tempo, salvava a mocinha e ela, automaticamente, veria toda a beleza do meu ideossincrático ser e se apaixonava instantaneamente por mim. Naquele momento sabíamos, nossas vidas estavam para sempre entrelaçadas, teríamos filhos, netos, eramos almas gêmeas, duos e unos simultaneamente, eramos a laranja completa, the happy end.

Contudo, sempre que a via no outro dia na escola, ou na rua... nada. Olhava-a de longe, se ela olhasse, fingia que não a via, começava a tremer, não pensava em nada, ficava nervoso, angustiado, suava feito um porco, pelos piores lugares para se suar... E se por acaso fosse impelido a lhe falar era uma tragédia ainda maior, parecia que estava com algum objeto na boca, tipo aqueles aparelhos antigos que ocupavam toda a cabeça do indivíduo e ele passava o dia chupando baba, e qualquer coisa que eu dissesse parecia a coisa mais imbecil do mundo. Podia ser a mais linda frase, a mais bela poesia, qualquer coisa parecia idiota e parecia que a menina ia fazer uma cara de entojo, como quem chupa um limão sem tequila, e nunca mais iria olhar na minha cara. Resultado, nunca falava nada, nunca estabelecia uma conversa, nunca mostrava quem eu era à ninguém. Essas meninas sempre ficavam com caras imbecis e depois diziam que "Todo homem..." alguma coisa que denegrisse e generalizasse o sexo masculino. De outro modo, encontrava algum motivo para fazer com que minha musa deixasse de ser minha musa, "desmusasse", "ela não gosta de tal coisa em mim", "ela olhou de tal forma", "ela é amiga daquele babaca, provavelmente é apaixonada por ele", ou o mais comum de todos, "ela nunca ficaria com um cara feito eu" e com o passar do tempo quer por maior distanciamento, quer por maior proximidade, aquela musa era substituída por outra que se encontrasse exatamente àquela distância de mim. A beleza que emanava da distância, o não ter que criava o desejo, enfim, o platonismo mal compreendido que transcendia o corpo sem sequer tocá-lo, que criava afinidades inexistes, assim como, disparidades.

O tempo passou, passei a perceber o valor do cotidiano, da troca de olhares, dos "bons dias" de todo dia, da conversa corriqueira, desinteressada, da cerveja, do vinho, da conversa interesseira, da verdade adaptada, bem calculada, do olhar limítrofe entre o tesão e o interesse, da frase dita na hora certa e principalmente, do silêncio no momento adequado. O tempo passou, as meninas se tornaram mulheres, o menino de 15 completou 25 e até hoje continua cometendo os mesmos erros infantis, os mesmos olhares acanhados e as mesmas incertezas.

A técnica só funciona sem a emoção.

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