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domingo, 20 de novembro de 2011

Poema dedicado ao poeta marginalizado Carlos Maia

Maiakovski bem sabia/ Que o lirismo e a poesia/ Sucumbem ao cotidianus/ Clotilde já faz anos/ Que começamos / a fumar e a beber/ Agora estamos juntos nesta merda/ Desta vida em conserva / Que nem os famélicos quiseram comer

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Trânsito Instransitável

Sérgio estava atrasado como sempre para o trabalho. Dirigia uma Ranger 4X4 que chegava facilmente aos 200 Km por hora, mas no trânsito de recife não passava dos 20 km/h. Uma bicicleta ultrapassou Sérgio no parque de exposição do cordeiro na altura da caxangá quando este estava parado no sinal. -"Filho da puta! Queria que esse porra arranhasse meu carro prele ver! Essa merda num paga nem o IPVA do meu carro!" Diógenes passa chutado pelo sinal vermelho com sua caloi 10. -"Que fidirrapariga, em vez de ficar na porra do canto da pista. É um imbecil mermo! Acha que porque comprou uma porra de um carro tem direito a rua inteira também!" Pensa Diógenes já quase no final do bairro do cordeiro. O sinal abre. Sérgio arranca com o carro e chega perto de Diógenes, mas para logo em seguida.

Amanda caminha calmamente pela calçada e observa um mendigo pedindo esmola. Balança a cabeça dizendo que tá sem dinheiro, como todos. Reflete dez segundos sobre aquela situação degradante, se pergunta o que faria no lugar daquele mendigo e apressa o passo para sair o mais rápido possível daquele mal cheiro. É inútil. O cheiro de merda emana da cidade toda. Não é o esgoto, ou pelo fato de ter sido construida em cima dos aterros do mangue; o cheiro é muito mais profundo e está muito mais entranhado do que a simples materialidade gasosa do metanoe outros gases que saem do esgoto... o cheiro vem da soma das subjetividades individuais em conjunto.

Alexandre atravessa a Caxangá e toma a direção da universidade dirigindo um CDU/VÁRZEA lotado. Tendo concluído seu segundo grau há mais de dez anos e sem acesso a formação superior, dirigia ônibus há mais de cinco anos. Pensa indignado: "Puta que pariu! Ficar levanod esses filhinhos de papai todo dia presse bando de porra encher o cu de maconha na universidade e de cana! É foda! E essa porra desse trânsito que não anda..." biiiiiiiii biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
-"Porra, se antes deu me formar vier um dia sentado nesse busão vai ser um milagre. E o pior é esse viado desse motorista que acha que tá levando batata em vez de gente!" Pensa Bruno sendo chutado de um lado pro outro sem poder contrariar as leis da inércia, apesar de sua prática em transgredir leis relacionadas a ilegalização de drogas de uma maneira geral.

Bertoldo pede mais uma esmola para poder comprar comida pros seus irmãos menores que ficaram em casa. Uma velha olha com olhar de desprezo e comenta com a amiga do lado: "Isso é pra comprar droga! Esses menino são tudo aviciado! Tudinho eles chera crack, cola, maconha..." Bertoldo fica emputecido com o comentário. Logo ele que nunca tinha fumado crack, cheirado cola, não bebia e só tinha "dado uma bola" uma vez na vida e sequer tinha gostado ou gastado dinheiro com esse tipo de coisa. A barriga de Bertoldo roncou um grito de libertação que só a fome pode gritar e que justifica qualquer atitude para calá-lo. Bertoldo pensou nos seus irmãos menores e a revolta foi acalentada pelo seu coração. Juntou o resto das energias que ainda tinha e saiu correndo o mais rápido que podia.

Diógenes pedala de pé para poder escapar dos buracos da cidade, o pneu fino de sua caloi passa por cima de uma brita, derrapa e estoura no buraco. Desgovernado ele bate em Bertoldo, os dois caem no meio da rua. Sérgio bate no buraco, mas consegue frear em fima deles e de Amanda que tinha parado para ver a confusão. Alexandre está agora prestes a pegar a Polidoro, arranca com o ônibus numa velocidade inimaginável, como é característico de todos os motoristas nesse treicho. O ônibus se desgoverna por causa do buraco bate no carro de Sérgio que rodopia atropela Diógenes, Amanda, Bertoldo, a velha e a amiga que morrem na hora. O air bag não abre, Sérgio bate com a cabeça na direção e sua cabeça estoura. Alexandre voa do ônibus e para no poste a frente. Bruno com a inércia sai voando e antes de morrer com a batida esmagado na catraca pensa: "Puta merda, vou perder a prova de Ciência Política!"

*De setembro de 2009 até outubro de 2011 Recife já soma quase 400 mil acidentes de trânsito.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Tratado de Poesia (ou de aporia)

O poeta deve não ter dever nem devir
Pode falar do mais profundo sentimento
com coisas simples e cotidianas,
Mas não deve se prender a esta vontade de efêmero
Tampouco confundir simplicidade com efemeridade ou futilidade.
Deve não expressar, como disse certo Pessoa,
Mas despertar caso siga o que quer que seja
Não escrever para outros poetas
tampouco ser profeta
Deve ser universal quanto mais for individual
Deve impor a seus escritos a prudência e a permanência do existir
E nunca esquecer do mais importante
para que toda e qualquer poesia,
este escreva com maestria
Rasgar e queimar
Todo e qualquer tratado de poesia.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Passando

Percebi estar mais ausente que profundo.
Ultimamente tem sido essa a minha cruz
Caminhar incompetente em abranger a mim mesmo
Passar como quem tem um lugar mais importante para ir,
E voltar para a cláusura de si
E tou indo,
E já tou lá.