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sábado, 6 de julho de 2013

De ser velho

- Tu curte que tipo de som?
- Pow, teve uma época que eu só curtia H.C., Punk, algumas bandas de Trash, poucas de Black e de Death; Depois comecei a curtir de tudo, Belchior, Raul, Tom Zé, Edson Gomes, Maurício Baia... Mas hoje em dia o que eu escuto mesmo é Galinha Pintadinha e Palavra Cantada.

Mateus está num relacionamento de brincadeiras.



Não há nada pior do que pessoas sérias. A lógica importada da Europa de que não se pode falar de coisas relevantes com brincadeiras não se adequa, obviamente, à nossa realidade gnosiológica e empírica. Em outras palavras, como diria o filósofo Zé Lezin da Paraíba "Brasileiro é como manequim de alfaiate, é o ferro no rabo e ele rindo o tempo todo".
Não há nada pior num relacionamento interpessoal quando some a brincadeira, quando a rotina toma assento e se esparrama, ocupando todos os espaços que antes serviam às brincadeiras, ao casal.

Relacionamento sério denota exclusividade, ciúmes sérios, possessividade séria, passionalidade condicionada para brigas sérias, sobre assuntos sérios que apenas pessoas sérias teriam a seriedade para dialogar seriamente sobre isso. Discussões sobre pormenores de compromissos que ninguém assumiu explicitamente, mas que o outro acredita seriamente que é tácito de um relacionamento sério.

Um relacionamento de brincadeiras não denota nada. Brincadeira é como denominamos a liberdade infantil de se fazer o que quiser, de se estar onde quiser, de reinventar a verdade e o mundo. Um olhar de deslumbramento para todas as pequenas coisas, uma alegria de se estar vivo por mais um diam de calçar os sapatos dos outros e sair andando como se fossem nossos. É a obrigatoriedade apenas para com a nossa própria felicidade.

Disseram-me, certa vez, que apesar da gravidade a Terra não passa de uma pedrinha voando no ar, então também temos que voar.

Obrigado, mas prefiro um relacionamento de brincadeiras... voemos.

Sobre palavras e pessoas.


Pequenos atos que consideramos por vezes insignificantes tomam proporções inexplicáveis em nossas vidas e nos tornamos coadjuvantes de nossa própria história, atores alheios dos roteiros de nossas vidas. O tempo não perdoa, não sente pena, e de fato sequer existe, senão como uma simbologia para a sucessão de eventos racionalmente categorizados. Vivemos no ínterim efêmero do nascimento à morte, no limiar da razão, do sentir e da manutenção da frágil máquina que são nossos corpos.

A vida sempre me foi muito difícil, ou pelo menos desde que passei a acreditar na mortalidade do espírito com o corpo, ou na sua inexistência para ser mais específico. A imortalidade da alma, ou a crença em outras vidas dá ao interlocutor desse tipo de discurso a cômoda falácia de chances infinitas, como num jogo de vídeo game, como um filme onde a personagem principal é importante demais para morrer, não importando o que ela faça, como viva, aonde vá, onde fique... sempre terá uma nova chance de reparar seus erros. Contudo, a concepção de karma traz em si incomensurável crueldade, dando a inocentes pretextos de culpa e de obrigações para com, em detrimento de outras vidas. À parte disso, me vejo perdido na eterna última chance de ser, na última página em branco que terei de preencher com um texto de ações irreversíveis, sem parágrafos, deletes e com um último ponto final à espera de findar o texto por toda a eternidade.

A minha memória, entretanto, é falha e não funciona como um texto que pode ser relido sempre que aprouver ao leitor. Tenho dificuldades em saber o porquê de determinada palavra ter sido posta em determinado ponto do texto, mesmo sabendo que na hora me parecia a melhor alternativa, me escapam as justificativas. Abismos intercalam nossas palavras a cada silêncio, a cada sentimento não expresso, a cada raiva contida, a cada desejo não saciado, a cada privação. Tudo isso me faz sentir que fiz/escolhi a palavra errada. Mas, como disse, é a palavra que no momento achamos a melhor possível e depois, após sentirmo-nos diferentes, vemos como inadequada, como errada. Mas são escolhas absortas em sentimentos, são escolhas não editáveis.

O que constitui nosso caráter é a forma com a qual agimos ante as conseqüências de nossas próprias atitudes, se as rechaçamos como não nos pertencendo ou se as enfrentamos de frente com a cabeça erguida e com a consciência limpa...

Poema curto sobre um amor longo

Continua...

domingo, 31 de março de 2013

À Recife


Recife ser teu filho é responsabilidade sem igual.
Meu amor fique sabendo
Se eu te desse o que me deu,
Dava tudo que tenho e ainda ficava devendo.

Recife minha puta costeira
Não te quero só boa, te quero inteira,
Com teus feitos e teus defeitos.

Porquê um recifense que se presa
Quando está contigo não tem pressa,
Apenas pena de ser mortal.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Haikai do consumismo ideológico

Como tem gente ignorante,
Como tem gente otária...
Não vê que toda ideologia totalizante
É uma ideologia totaritária

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sofrimento X Felicidade

A felicidade é a pedra basilar da sociedade individualista e o refrão que o marketing entoa diariamente que perpassa nossos olhos, ouvidos e subconscientes. Mas o que é a felicidade? Será que podemos atingir apenas uma definição para essa pergunta?

Tentam nos vender a ideia de que felicidade é ter um corpo escultural, uma vida livre de drogas, um padrão de consumo elevado, um emprego bem remunerado, amigos "descolados", uma linda mulher loira, alta e de olhos claros ao nosso lado, lindos filhos, um automóvel grande e potente (como se isso compusesse nossa personalidade) e um apartamento e uma televisão tão grandes quanto o vazio de nossa existência. Sim é possível atingir esse patamar e, apesar de todo o esforço e cerceamento que esse "padrão" demanda, ser extremamente infeliz. O sofrimento advindo das frustrações mesmo quando atingimos esse patamar de perfectibilidade imputados aos indivíduos individualistas também é constante.

Se não quero engordar, não posso beber muita cerveja, ou comer coisas calóricas. Se tenho um emprego que paga bem, em contrapartida há o tempo que ele demanda e, por vezes, a sua nulidade social. Se quero comprar um computador, ou um carro de última geração, tenho que arcar com os débitos desses verdadeiros falos do consumo.
Em suma, estamos sempre divididos entre dúvidas e dívidas do dia-a-dia.

A felicidade nada mais é do que a ilusão de uma unidade composta por um sofrimento intercalado entre esses momentos. Contudo, o sofrimento também não compõe uma unidade e é sempre intercalado, nem que seja por breves momentos de menos sofrimento.

A ilusão, nada mais é do que a representação coletiva, ou individual de uma realidade fenomênica incomensurável e inapreensível em sua totalidade. Dada a impotência do indivíduo ante a infinitude desta realidade, basta-lhe recorrer aos seus parcos sentidos para apreender o que pode vir a ser o mundo, pautando-se também e logicamente nas representações compostas pelo meio social desse indivíduo. Logo, esta representação, apesar de individual, é também sujeita à representação coletiva.

Na nossa sociedade do espetáculo, as representações do conceito de "felicidade" e do conceito de "sofrimento" passa por um processo de intensa repetição das representações tidas como certas, ou ideais à essa mesma sociedade. O fato de não ser o "consumidor ideal" por si só já exclui o indivíduo, o torna infeliz, o faz sofrer e é sob esse sofrimento que se erige o ciclo do consumismo característico de nossos tortuosos dias. Insatisfação, consumo, lançamento de novos produtos, insatisfação, consumo do novo produto. Ciclo de obsolescência cada vez mais curta.

Apesar de cada vez mais limitado, ainda possuímos o livre arbítrio, ainda podemos fazer escolhas. Escolhas, contudo, demandam conhecimento. O auto-conhecimento é o princípio fundamental que nos impele a fazer as melhores escolhas para nossa vida, seja esse conhecimento pautado na racionalidade, seja pautado na irracionalidade, dado que a própria razão não é suficientemente abrangente para abarcar sequer a realidade como se nos apresenta (fenomênica). Dado esse dado, caímos numa pretensa aporia, para transcendermos o individualismo temos que nos voltar para nós mesmos. Pretensa porque o consumismo se pauta num individualismo behaviorista, sub racional e quando passamos a nos conhecer profundamente nos tornamos racionais e supra racionais.

Correndo o risco de parecer uma oratória de auto-ajuda, concluo escrevendo que o sofrimento é inevitável e a felicidade também; só depende de nós demandar mais atenção a um do que ao outro. Só depende de nós não nos submetermos a essa felicidade hitlerista (não à toa empoderado pela publicidade) que nos impele a agir sem reflexão e sem sensibilidade; só depende de nós garimparmos a satisfação pessoal, profissional, sexual, sentimental, mesmo que à parte do que a lei e a pretensa "opinião pública" nos ditam (pretensa e nunca real, porque não se pauta no público, mas apenas nos grandes conglomerados de mídia). O sofrimento não deve ser evitado, mas enfrentado, é ele que nos impele a valorizar os momentos de felicidade real na nossa breve passagem por esse mundinho azul, cada vez mais escuro.